José Claudio Pereira
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Investimentos no Brasil devem diminuir
Fonte: Correio Braziliense
Volatilidade do câmbio faz empresas portuguesas suspenderem projetos de expansão no país
O rápido agravamento da crise externa traz incertezas sobre a perspectiva de fluxo de investimentos diretos da Europa para o Brasil. Se até então estava claro que os diversos projetos nacionais conseguiriam atrair o capital estrangeiro sem maiores dificuldades, agora prevalece um sentimento de indefinição. A preocupação não está centrada especificamente na qualidade dos projetos e negócios brasileiros, mas sim na capacidade de financiamento das empresas européias, abatidas diretamente pelo atual momento de turbulência. Do lado nacional, o comportamento do real e das commodities será o principal ponto de análise para os potenciais interessados em entrar no país.
Para especialistas, as decisões também passarão pela escolha do momento mais adequado e por uma diferenciação setorial, já que alguns segmentos se mostrarão mais atrativos. As multinacionais com recursos em caixa ganham vantagem neste momento. “Queremos investir no Brasil, mas estamos em um impasse”, afirmou um executivo de um private equity europeu que acaba de montar estrutura para entrar no país. “O momento é de avaliar a gravidade e intensidade da crise.”
Segundo o executivo, que preferiu não se identificar, o grande X da questão é o câmbio, pois os recursos para os aportes já foram levantados antes da explosão da crise. Se o processo de desvalorização da moeda nacional já tiver chegado ao fim, esta é a hora de entrar. Mas, se o real sofrer nova depreciação, o investidor vai perder dinheiro. No ano passado, o Brasil recebeu a cifra recorde de US$ 34,6 bilhões em investimento externo direto (IED), superando inclusive a era das privatizações. Foi o volume mais alto da América Latina e o quarto maior entre os emergentes, atrás somente de China, Hong Kong e Rússia.
Indefinição
Em uma pesquisa feita pela Organização das Nações Unidas (ONU), antes da piora da crise nas últimas semanas, o país apareceu em quinto lugar como destino preferido dos investimentos até 2010. Enquanto os ativos financeiros são afetados diretamente pela atual turbulência e desalavancagem global, agora os últimos desdobramentos trazem indefinições para os aportes diretos, que têm como horizonte o longo prazo. Os maiores investidores do mundo são os Estados Unidos, Reino Unido, França, Alemanha e Espanha, países que podem entrar em recessão neste ano. O colapso de instituições financeiras nos EUA e na Europa provocou um choque de liquidez forte, reduzindo a quantidade de dinheiro em circulação pelo mundo e encarecendo o crédito.
O efeito já começa a ser sentido nas empresas. Recentemente, a Energias do Brasil, subsidiária da Energias de Portugal, desistiu do projeto de térmica a carvão Pecém II e atribuiu a decisão à crise e à volatilidade do câmbio. A Companhia de Concessões Rodoviárias, que tem como parceira a portuguesa Brisa, informou que será menos agressiva nos próximos leilões de estradas. “Eu acredito que haverá impacto sobre o investimento direto no Brasil”, disse a diretora regional para a América Latina da The Economist Intelligence Unit (EIU), Justine Thody. “O custo dos financiamentos será uma questão importante para os grandes projetos.”
Apesar disso, o chefe da divisão de América Latina da consultoria Exclusive Analysis, Carlos Caicedo, acredita que as perspectivas de longo prazo para os investimentos diretos no Brasil continuam positivas. Ele afirmou que o sistema financeiro nacional é sólido e o governo conta com o BNDES para oferecer linhas de crédito caso os outros empréstimos sequem. Para o professor da London School of Economics and Political Science Andrés Rodríguez-Pose a América Latina pode sofrer com falta de crédito.
Fazenda e BC convidados a se explicar
O ministro da Fazenda, Guido Mantega, e o presidente do Banco Central, Henrique Meirelles, deverão prestar esclarecimentos ao Congresso sobre as medidas adotadas pelo governo para atenuar o contágio da crise internacional na economia brasileira. Ontem, a Comissão de Assuntos Econômicos (CAE) do Senado aprovou requerimento do senador Pedro Simon (PMDB-RS — foto) convidando Mantega e Meirelles a exporem o impacto econômico e social da instabilidade financeira previsto para o Brasil, assim como as ações adotadas pelo governo para atenuar as conseqüências negativas da bolha de crédito. “A preocupação é avaliar o impacto da crise na economia brasileira, a eficácia das medidas do governo e, principalmente, em relação à redução da atividade econômica, o nível de emprego, poupança popular e programas sociais”, comentou o senador. A iniciativa também foi adotada por membros da Câmara. O líder do PPS na Casa, Fernando Coruja (SC), protocolou ontem requerimento de convocação para ouvir Mantega e Meirelles sobre os desdobramentos da crise no nível de atividade, negócios e geração de empregos. “É preciso que os ministros, diante desta situação que vive o país e o mundo, expliquem ao país o que está sendo feito”, defendeu o deputado.