José Claudio Pereira
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Eonara do Carmo Cesa Paim
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Crise desacelera alta de alimento e reduz inflação
ndice de preços no atacado da agropecuária, que chegou a acumular alta de 40% em 12 meses, registra agora avanço de apenas 3%
A crise econômica mundial diminuiu a pressão interna sobre os alimentos, derrubando os preços e ajudando a reduzir a inflação, informa Mauro Zafalon. A queda se deu principalmente no atacado, mais influenciado pelo mercado externo. O recuo da soja na Bolsa de Chicago, por exemplo, leva à redução do preço do óleo nos supermercados.
Em julho de 2008, com a economia a pleno vapor e grande demanda mundial, os alimentos chegaram a acumular alta de 40,25% em 12 meses, segundo índice calculado pela FGV.
Após a crise, a falta de crédito e as dificuldades de empresas e países em formar estoques forçaram a baixa, e o índice até fevereiro recuou para 3,17%.
A queda atingiu também commodities como trigo e milho. Alimentos que são comercializados apenas internamente, porém, mantêm a variação de preços conforme a sazonalidade.
O comportamento futuro dos produtos está indefinido, mas analistas prevêem inflação de cerca de 4% em 2009, o que pode facilitar a redução de juros.
A crise econômica mundial diminuiu a pressão interna sobre os alimentos. Essa queda se reflete na inflação, desacelerando principalmente os índices de preços no atacado, que têm influência das commodities agrícolas negociadas no mercado externo.
Aos poucos, essa queda chega ao bolso do consumidor. A soja, que recua na Bolsa de Chicago, por exemplo, provoca queda nos preços do óleo para os consumidores nos supermercados.
Além de pressão menor dos preços que têm influências externas, a inflação também perde força por causa de produtos com negociações apenas internas, como os cereais. Com isso, alguns analistas preveem taxa de inflação próxima de 4% para este ano, o que vai facilitar a ação do BC em reduzir os juros.
A grande demanda mundial por alimentos em 2008, quando a economia ainda crescia, levou a uma forte alta nos preços no atacado, empurrando os índices inflacionários para cima.
Os produtos agropecuários chegaram a registrar alta de 40,25% no acumulado de 12 meses em julho do ano passado no IPA (Índice de Preços por Atacado) do IGP-M (Índice Geral de Preços do Mercado), calculado pela FGV.
Essa alta no atacado refletia a elevação recorde dos preços das commodities nas principais Bolsas agrícolas espalhadas pelo mundo. Em Chicago, por exemplo, a soja chegou a ser negociada a US$ 16,60 por bushel (27,2 quilos) no início de julho de 2008, valor jamais registrado até então.
Menor velocidade
Com a ocorrência da crise, a falta de crédito e as dificuldades de empresas e de países em formar estoques de alimentos forçaram a baixa nos preços das commodities. A queda não foi apenas da soja mas do óleo de soja, do trigo, do milho etc. A mesma soja que chegou a ser negociada a US$ 16,60 no ano passado está atualmente em US$ 8,70 em Chicago -queda de 48%.
A perda de preços das commodities fez com que o índice dos produtos agropecuários acumulado em 12 meses até fevereiro recuasse para apenas 3,17% no IPA do IGP-M.
Heron do Carmo, economista da Fipe (Fundação Instituto de Pesquisas Econômicas), diz que "inflação é ritmo" e os preços perderam velocidade com a desaceleração da economia. Segundo ele, os índices que mostram os preços dos alimentos apontam para essa desaceleração, que só não se transformou em profunda deflação porque houve a recuperação do dólar diante do real.
A alta do dólar fez com que, mesmo com a queda dos preços das commodities, os produtores brasileiros perdessem menos. Com a alta da moeda norte-americana, receberam mais reais pelas vendas.
Com isso, o consumidor paga menos pelos alimentos, principalmente pelos que têm comercialização internacional, mas a queda não afetou muito a renda dos produtores.
Tendência indefinida
O comportamento futuro dos preços dos alimentos está indefinido, mas Heron acredita que eles poderão ser responsáveis por uma taxa de inflação inferior a 4% neste ano. Para o economista, a queda abre caminho até para a redução maior dos juros.
Apesar dessa pressão externa menor, os alimentos que são comercializados apenas internamente mantêm o sobe-e-desce conforme a sazonalidade.
Paulo Picchetti, coordenador do IPC-S (Índice de Preços ao Consumidor Semanal), índice do Ibre-FGV e pesquisado em sete capitais brasileiras, diz que a "âncora verde" perdeu força a partir de 2007 e os alimentos começaram a subir.
A inflação acumulada dos alimentos no IPC-S é de 21,4% de fevereiro de 2007 até a terceira semana de fevereiro deste ano. Nesse mesmo período, o índice médio de inflação foi de 11,1%.
A pressão dos alimentos, no entanto, já não é tão acentuada como foi em 2007 e em 2008. O IPC-S divulgado na semana passada mostrou alta de 0,39% nos preços dos últimos 30 dias até 22 de fevereiro, abaixo do 0,59% do índice anterior. Dessa queda de 0,20 ponto percentual, pelo menos 0,15 ponto veio da baixa nos preços dos alimentos, diz Picchetti.
O coordenador do IPC-S lembra, ainda, que a variação das commodities, além de ter uma defasagem de tempo para chegar ao consumidor, não segue os mesmos percentuais de aumento ou queda do atacado. Parte desses repasses é feita, ainda, com base em outros custos e serviços, lembra Heron.