José Claudio Pereira
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Eonara do Carmo Cesa Paim
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Crescimento, inflação e juros em alta
Analistas já preveem PIB maior que 6% este ano e aumento de 0,75 ponto na Selic para conter inflação
Com o mercado já prevendo crescimento do país acima de 6% no ano, o BC deve elevar os juros, amanhã, em até 0,75 ponto, para 9,50%. O objetivo é conter a inflação, estimada em 5,4% em 2010, bem acima da meta oficial de 4,5%.
Analistas já preveem PIB maior que 6% este ano e aumento de 0,75 ponto na Selic para conter inflação
Na semana em que o Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central decide a nova taxa básica de juros do país — e as apostas do mercado são de uma alta de até 0,75 ponto percentual — a economia brasileira dá novos sinais de forte aquecimento. Economistas preveem que, no primeiro trimestre, o Produto Interno Bruto (PIB, conjunto de bens e serviços produzidos pelo país) tenha avançado até 3% frente ao mesmo trimestre do ano passado, numa taxa anualizada de nada menos do que 12%. Na média, os analistas estimam que a economia cresceu 2% no primeiro trimestre.
Com a atividade econômica aquecida, aumentam as estimativas para a inflação. A pesquisa Focus, do Banco Central (BC), mostrou ontem que os analistas elevaram pela 14asemana seguida, suas previsões para a inflação este ano. Agora, a projeção é que o IPCA fique em 5,4% este ano, contra 5,32% na semana anterior, numa taxa cada vez mais distante da meta oficial, de 4,5% para 2010.
Por causa das pressões inflacionárias, os analistas ouvidos pelo Focus preveem alta de meio ponto percentual na taxa básica de juros Selic esta semana — movimento que, além de retirar os juros básicos de seu atual piso histórico, de 8,75% ao ano, interromperá uma sequência de 18 meses sem altas. O mercado aumentou as projeções de alta para a Selic ao longo do ano, de 11,5% para 11,75% em dezembro. O boletim Focus estima ainda um PIB de 6% este ano — contra 5,81% na semana passada. Mas, o banco Itaú, por exemplo, já estima um PIB de 6,5% este ano.
Diversos indicadores prévios da atividade econômica dão sustentação a esta avaliação.
Ontem, a Empresa de Pesquisa Energética (EPE) informou que o consumo de energia pela indústria cresceu 12% em março, frente ao mesmo mês do ano passado, quando o Brasil já sofria os reflexos negativos da crise financeira internacional.
Foram 15 mil Gigawatts/hora (GWh) — a primeira vez desde novembro de 2008 que a demanda de energia da indústria atinge esse nível. No acumulado de janeiro a março o consumo industrial cresceu 13%. Dados que medem financiamento, produção, salários e comércio vão na mesma linha.
A produção de papel ondulado — usado em embalagens e um termômetro da atividade econômica — cresceu 20,5% em março, frente a igual mês do ano passado. O tráfego de caminhões nas rodovias com pedágio aumentou 13,6% na mesma comparação.
O Itaú Unibanco prevê que o PIB cresceu entre 2,5% e 3% no primeiro trimestre, o que significaria o melhor resultado desde 2004, quando a expansão foi de 2,8%. Para o ano, a expectativa é de crescimento de 6,5%.
Economista vê ritmo mais lento no 2° semestre
Alguns analistas alertam, porém, que apesar da atividade econômica acelerada neste primeiro trimestre, o ano não fechará tão forte. A LCA Consultores prevê crescimento de 1,7% do PIB no primeiro trimestre, em comparação ao três últimos meses de 2009. Para o ano, a expansão estimada é de 5,8%.
— Para o segundo semestre esperamos uma desaceleração. Em diversos setores, como automóveis e linha branca, ocorreu uma antecipação de compras importante, que se beneficiou da isenção do IPI. O comprometimento da renda das famílias com financiamento será um limitador natural do forte crescimento. Atualmente, cerca de 18% da renda das famílias está destinada aos financiamentos, contra 15% nos Estados Unidos — disse Fernando Sampaio, diretor de macroeconomia da LCA, que acredita, contudo, que o BC elevará a Selic em 0,75 ponto percentual nesta semana.
Eduardo Oliveira, da Um Investimento, acredita que, com tantos dados que demonstram a economia aquecida, o Copom deverá elevar a Selic em 0,75 ponto percentual depois de amanhã. No mercado financeiro, as negociações interbancárias apontavam para uma alta de 0,75 ponto percentual. Os contratos de Depósito Interfinanceiro (DI) para julho de 2010 fecharam a 9,51% ontem, alta de 0,7 ponto. Os de janeiro de 2011 avançaram 0,11 ponto, atingindo 10,86%. Influenciada pela expectativa de alta nos juros, a Bolsa de Valores de São Paulo (Bovespa) recuou 0,92% ontem, para 68.871 pontos. Os papéis de empresas de varejo — mais dependentes do custo do crédito — puxaram as quedas. Perderam Natura (-3,58%), B2W Varejo (-0,03%), Lojas Americanas (-0,54%) e Lojas Renner (-1,22%). O dólar comercial caiu 0,96%, para R$ 1,745.
— Os papéis ligados ao consumo interno tendem a sofrer com financiamento mais caro — afirma Leonel Pita, da Lopes&Filho Associados.