José Claudio Pereira
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Eonara do Carmo Cesa Paim
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Dólar reage e fecha a R$ 1,725
Depois da décima queda seguida, trajetória da moeda muda, com atuação do BC
Depois de 10 quedas consecutivas, o dólar finalmente reagiu ontem, graças à atuação do Banco Central (BC), que fez dois leilões de compra da moeda norte-americana. Com isso, a cotação do dólar subiu 1,19%, cotada a R$ 1,725. “Foi uma subida pontual. É natural que, após sequências de baixa, dê um suspiro. Mas a tendência continua sendo de queda. Até o fim do ano, o dólar vai se manter no intervalo entre R$ 1,70 e R$ 1,80”, assinalou Mário Paiva, da Corretora Liquidez. “É grande a expectativa de entrada de moeda estrangeira com a capitalização da Petrobras e de outras grandes empresas a exemplo de BNDES e Vale”, disse Paiva.
A situação do dólar é crítica no contexto global. Ontem, bateu a mínima de R$ 1,710 durante o pregão. No Brasil, nos últimos 12 meses, desabou 4,51%. Apenas em setembro, a desvalorização em relação ao real é de 1,71%. De 15 de agosto até ontem, registrou perdas de 2,62%. E, em 2010, baixou 0,99%. “Os investidores estrangeiros são os principais responsáveis por esses movimentos de queda. Eles vêm apostando pesado contra o dólar. Vendem o máximo que podem”, explicou Paiva.
O resultado de tanto interesse dos investidores estrangeiros pelo Brasil é o ingresso líquido de US$ 2,114 bilhões só nos 10 primeiros dias de setembro, conforme informação do Banco Central. Nas operações financeiras, o saldo foi positivo em US$ 2,895 bilhões e nas comerciais, houve deficit de US$ 781 milhões. O BC revelou ainda que suas intervenções no mercado de câmbio somou US$ 815 milhões nesse mesmo período. O dado indica que a autoridade monetária comprou US$ 207 milhões na quarta-feira passada, quando o BC começou a fazer dois leilões de compra de dólares por dia.
Juros altos
O sucesso das emissões de títulos brasileiros no exterior tem sido sustentado pelos altos juros oferecidos no Brasil em relação a outros papéis soberanos. O Tesouro Nacional concluiu ontem a reabertura do título denominado em dólares Global 2041, iniciada na terça-feira, e vendeu mais US$ 50 milhões no mercado asiático.
Com o resultado, a União captou US$ 550 milhões, dos quais US$ 500 milhões foram lançados nos mercados norte-americano e europeu. Na terceira operação externa, realizada este ano, o governo conseguiu obter a menor taxa de retorno para papéis de 30 anos (5,202% ao ano).
Governo impedirá valorização do real
O governo vai tomar “medidas para impedir que haja valorização do real”, reiterou o ministro da Fazenda, Guido Mantega, alertando que não será deixado no mercado “nenhum excesso de dólar”. Segundo ele, outros países estão desvalorizando suas moedas para ganhar competitividade no comércio exterior e o Brasil não vai ficar parado “assistindo esse jogo”, em que algumas economias tentam sair da crise global “às nossas custas”.
“Os países estão se movimentando. O Japão fez um movimento forte para impedir a valorização do iene... Parece que isso é algo orquestrado com outros asiáticos... Não são só os asiáticos que querem desvalorizar suas moedas. Estados Unidos e Europa também querem sair da crise econômica com exportação”, disse em evento no Rio de Janeiro.
“Nós temos, por um lado, o Banco Central, que tem um armamento pesado. Ele tem feito intervenções no mercado, temos o Fundo Soberano, temos o IOF e outros instrumentos que poderemos utilizar.”
Nesta quarta-feira, o Japão interveio no mercado cambial pela primeira vez em seis anos, para conter a alta do iene que ameaça sua frágil recuperação econômica (leia mais na página 18).
Mais tarde, no mesmo evento, o ministro acrescentou que o governo pode utilizar o Fundo Soberano para comprar os dólares provenientes da capitalização da Petrobras. “Estamos examinando cada mercado, cada segmento de entrada de capital externo. Nós vamos enxugar algum eventual excesso de dólar que possa entrar por parte da operação da Petrobras. Se entrar, vamos comprar tudo”, disse.
“Não vamos deixar nenhum excesso de dólar no mercado, e já estou avisando. Estamos cada vez mais atentos e preocupados com essa questão.”
Questionado sobre o alcance das medidas que o governo pode adotar, Mantega garantiu que o governo “tem cacife para bancar qualquer operação da Petrobras”. “O Fundo Soberano tem recursos ilimitados, porque ele é o caixa do Tesouro... E o Banco Central também tem cacife grande para comprar o que for necessário.”
Mais contido
De Londres, o presidente do Banco Central, Henrique Meirelles, afirmou que a autoridade monetária está sempre alerta a “sinais de desequilíbrios” na economia, mas evitou comentar diretamente a recente valorização do real.
“Nós estamos sempre procurando sinais de desequilíbrios, bolhas etc, e sempre estamos alertas para que não haja desequilíbrios na economia”, afirmou Meirelles a jornalistas quando questionado sobre eventuais preocupações com a alta do real.
O dólar acumula queda ante o real em setembro e a expectativa é de que a moeda norte-americana tenha baixas adicionais com a entrada de recursos estrangeiros, por conta da capitalização da Petrobras. Essa tendência tem alimentado a expectativa de que o BC volte a comprar dólares no mercado futuro por meio da operação conhecida como swap reverso.
“Nós não nos pronunciamos sobre ações futuras, ou (fazemos) comentários que possam levar a conclusões sobre ações futuras”, disse Meirelles quando perguntado se há desequilíbrios no câmbio.
Guido Mantega,ministro da Fazenda.