José Claudio Pereira
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Eonara do Carmo Cesa Paim
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Juro do consumidor é o mais baixo desde o Real
Taxa anual paga pelas pessoas físicas caiu de 40,5% em julho para 39,9% em agosto; para o BC, redução se deve à expansão de crédito mais barato
O juro cobrado do consumidor nos empréstimos nunca foi tão baixo. Dados divulgados ontem pelo Banco Central mostram que a taxa paga pelas pessoas físicas caiu para 39,9% anuais em agosto, a mais baixa desde o Plano Real. Em julho, estava em 40,5%.
O BC atribui a redução à queda da inadimplência e à expansão do crédito mais barato, como o consignado. Enquanto famílias aproveitam taxas em queda, o juro médio cobrado das empresas nos financiamentos subiu pelo quarto mês seguido.
"O crescimento da economia gera menor inadimplência, o que favorece a redução das taxas. Além disso, modalidades como o consignado e financiamento de veículos, que têm juros menores, continuam ganhando mercado", diz o chefe adjunto do departamento econômico do BC, Túlio Maciel.
Nos últimos meses, mais consumidores têm tomado dinheiro em operações com juros menores, o que reduz o juro médio do mercado. O melhor exemplo é o crédito consignado. Em agosto, essas operações cresceram 3,1% em relação a julho. Já o crédito pessoal tradicional, sem desconto em folha de pagamento, avançou 2,2%. Como o juro médio do consignado é de 26,4% ao ano - menor que os 55,3% do crédito pessoal -, a média acaba caindo estatisticamente.
"Como o pagamento do consignado é feito diretamente no salário, o risco de calote dessa operação é muito baixo. Por isso, o juro é menor", diz o professor da Escola de Administração de Empresas da Fundação Getúlio Vargas, Evaldo Alves. Hoje, 60,2% do crédito pessoal já é tomado no consignado. Há um ano, era 56,9%. Para Alves, o juro vai cair ainda mais, pois a inadimplência continua em queda. Em agosto, a parcela dos empréstimos às famílias com atraso superior a três meses caiu de 6,3% para 6,2%. O calote tem caído gradualmente desde maio de 2009.
O professor de finanças do Insper, Ricardo José de Almeida, também afirma que muitas pessoas da chamada "nova classe média" têm ajudado a reduzir o juro. "Muitos clientes que estrearam no crédito recentemente têm conseguido pagar as parcelas em dia porque o emprego e a renda estão em alta. Isso gera um histórico favorável e os bancos reconhecem que esse cliente é um bom pagador, o que reduz o juro cobrado", explica. "É o chamado aprendizado dos bancos."
Empresas. A realidade do crédito às empresas, porém, é diferente. O juro médio cobrado nesse segmento subiu pela quarta vez seguida, para 28,9%. Para Túlio Maciel, a busca de pequenas empresas por crédito explica a elevação persistente das taxas. "Houve mudança no perfil dos tomadores de empréstimos. Temos maior participação das micro e pequenas empresas, que têm maior risco de inadimplência, o que faz com que bancos elevem o juro praticado."
Evaldo Alves, da FGV, diz que a entrada de novas empresas no mercado de crédito pode ser explicada, em parte, pelo processo de formalização que tem ocorrido na economia brasileira.