José Claudio Pereira
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Eonara do Carmo Cesa Paim
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Inflação supera o teto da meta do governo
Puxada pelos alimentos, a prévia do índice oficial, o IPCA-15, fecha o ano em 6,56%, superando o limite de 6,5% definido pelo governo
O presidente do Banco Central, Alexandre Tombini, já começou a redigir o esboço da carta que será obrigado a divulgar à Nação para explicar o porquê de ter falhado na missão de manter a inflação dentro das metas. Apesar de ainda acreditar que não terá de passar por tal constrangimento, ele deu início ao rascunho diante do resultado do Índice de Preços ao Consumidor Amplo 15 (IPCA-15), prévia do indicador oficial. A taxa cravou alta de 0,56% em dezembro e elevação de 6,56% no ano, estourando o teto da meta de 6,5% definido pelo Conselho Monetário Nacional (CMN). Com esse quadro e os preços dos alimentos pressionados, dificilmente o IPCA cheio ficará dentro do objetivo do governo, que tem como centro 4,5%, podendo variar dois pontos percentuais para cima ou para baixo.
Segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), os reajustes foram disseminados. Mas nada pesou tanto no bolso dos consumidores como os alimentos e as bebidas. Esse grupo apontou aumentos médios de 1,28%, praticamente o dobro do observado em novembro (0,77%), e, isoladamente, respondeu por 0,30 ponto percentual ou 54% do IPCA-15. Esse movimento foi ditado, principalmente, pelas carnes, que ficaram 4,36% mais caras em dezembro, ante alta 1,3% verificada no mês anterior.
"Olhando para o índice aberto, o resultado captado pelo IBGE só não foi pior porque as passagens aéreas apresentaram deflação de 2,06%, contribuindo com 0,06 ponto para que a inflação ficasse menor", disse o economista-chefe do Banco ABC Brasil, Luís Otávio de Souza Leal. "Essa sensação fica ainda mais forte quando notamos que, dos nove grupos que compõem o IPCA-15, cinco ficaram acima do previsto e um em linha com as nossas projeções", ressaltou. Ele lembrou ainda, que, a princípio as suas projeções para o IPCA deste mês variam entre 0,48% e 0,53%. "Ou seja, são de 50% as chance de termos uma cartinha" no início de 2012, o que pode ter um valor simbólico para o mercado, mas não terá um impacto relevante sobre a condução da política monetária por parte do BC", emendou. Ou seja, mesmo com a inflação estourando o teto da meta, o Comitê de Política Monetária (Copom) continuará reduzindo a taxa básica de juros (Selic), que está em 11%.
Pesquisas
A análise feita do Leal é endossada pela dona de casa Ana Maria Dantas, 42 anos. Ela tem ido constantemente aos supermercados e os preços não param de subir. "A situação está tão difícil, que estou sendo obrigada a substituir alguns alimentos nas refeições diárias", contou. A ordem, segundo ela, está sendo pesquisar e não comprar por impulso. "Saio de casa disposta a procurar marcas mais baratas, já que não podemos ficar sem comer. Mesmo assim, infelizmente, meu orçamento não está conseguindo acompanhar a inflação", lamentou.
No entender de Ana Maria, não são apenas os alimentos a engolir a renda. Também os itens ligados ao grupo habitação dispararam, passando, pelas contas do IBGE, de 0,4%, em novembro, para 0,54% neste mês, devido aos reajustes dos condomínio (0,74%), da energia elétrica (0,65%) e dos artigos de limpeza (0,67%). Os artigos de vestuário entraram na onda e foram reajustados em 1,1%, com as roupas femininas subindo 1,56%.%. "No todo, os números foram ruins", resumiu o economista-chefe do Banco WestLB do Brasil, Luciano Rostagno.