José Claudio Pereira
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Eonara do Carmo Cesa Paim
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Renda fixa representa 73% do total levantado pela indústria de fundos após disparada dos juros
O ambiente de maior incerteza contribuiu para reforçar uma maior aversão ao risco por parte dos investidores, com alocações em carteiras de perfil mais conservador
Sob efeito do ciclo de alta de juros, que completou um ano em 17 de março, a renda fixa atraiu uma montanha de dinheiro, mostra relatório da Anbima (Associação Brasileira das Entidades dos Mercados Financeiro e de Capitais). A taxa Selic foi elevada de 2% para 11,75% ao ano, e segundo o grupo macroeconômico da entidade, as elevações devem ter sequência até junho, diante das sucessivas surpresas inflacionárias, como a interrupção das cadeias de produção, agravada pela guerra entre Rússia e Ucrânia, e um fiscal mal aparado no Brasil
A captação de fundos de renda fixa acompanhou de perto o período de aperto monetário, atraindo R$ 268,4 bilhões entre março de 2021 e março de 2022 até 16 de março. O valor representa 73% do total levantado pela indústria nesse intervalo. A maior alocação fez a categoria aumentar a sua participação relativa no setor de 35,9% para 39%. Os multimercados aparecem em seguida com 22% contra 23,6%, na mesma base de comparação.
“O ambiente de maior incerteza contribuiu para reforçar uma maior aversão ao risco por parte dos investidores, com alocações em carteiras de perfil mais conservador. É o mesmo movimento visto nas ofertas públicas”, afirma Pedro Rudge, diretor da Anbima, em nota.
A maior parte dos recursos foi, sobretudo, para fundos de curto prazo, usados para acomodar as reservas de emergência dos investidores e o caixa das empresas.
As carteiras de renda fixa simples (com, no mínimo, 95% do patrimônio aplicado em títulos públicos) receberam a maior parte do bolo, com R$ 166,3 bilhões, seguidas pelas de duração baixa grau de investimento (aplica, no mínimo, 80% da carteira em títulos públicos e ativos com baixo risco de mercado), atraindo R$ 89,3 bilhões. Já os fundos com mandato para maior exposição ao risco (aqueles com denominação “crédito livre”) captaram R$ 18,6 bilhões em 12 meses.
Em termos de desempenho, só os fundos de renda fixa duração alta grau de investimento superaram o IPCA no acumulado em 12 meses até março de 2022, com base na projeção da Anbima, com alta de 10,55% no período. Os portfólios tiveram rentabilidade de 11,8%.
No mercado de capitais, houve concentração nos instrumentos de renda fixa, principalmente as debêntures, que representaram 43% das captações no período, o que corresponde a um volume de R$ 266 bilhões. Em seguida, destacam-se os fundos de Investimento com Direitos Creditórios (FIDC) com R$ 89 bilhões.
Na renda variável, as ofertas públicas iniciais de ações (IPO, na sigla em inglês) e subsequentes responderam por R$ 61 bilhões e R$ 64 bilhões, respectivamente.
A participação dos ativos de renda fixa representava 70,5% do total das captações em fevereiro, em comparação a 55% em março de 2021, no início do ciclo de alta dos juros.
Para José Eduardo Laloni, vice-presidente da Anbima, o aumento da demanda dos fundos de investimento nas ofertas primárias, na comparação ao período anterior à alta da Selic, indica um ambiente favorável à alocação desses papéis nas carteiras dos investidores.
Somente em debêntures, a parcela alocada para as carteiras dos fundos de investimento subiu 19%, em janeiro e fevereiro do ano passado, para 34% no mesmo período de 2022.