José Claudio Pereira
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Eonara do Carmo Cesa Paim
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Os desafios de gerenciar (e motivar) equipes na volta ao escritório
Segundo uma pesquisa, 55% dos profissionais acreditam que voltar ao escritório é “estressante”; líderes precisam ter estratégias para recuperar o empenho de seus times, e os funcionários devem encarar esse processo como uma via de mão dupla
Depois do desafio de liderar pessoas a distância em meio à pandemia, com muitos colaboradores dispersos – seja por não contarem com espaço e infraestrutura adequados em casa para o trabalho, seja pelo fato de muitos não saberem gerenciar seu tempo no ambiente doméstico –, agora, presencialmente, os líderes enfrentam o desafio de comandar equipes que perderam o foco e até mesmo o senso de pertencimento.
São casos de colaboradores que já não aceitam com naturalidade trabalhar no escritório, que perderam o hábito de lidar com conflitos cara a cara, de atuar em equipe ou, por conta da pressão da pandemia, já não conseguem, por exemplo, separar os problemas de casa do ambiente profissional. Vale lembrar que muitas pessoas (os líderes, inclusive) continuam sob pressão ao lidar com situações como a perda de algum ente querido, crises de ansiedade ou mesmo com o desemprego de familiares.
Segundo uma pesquisa feita pela consultoria Korn Ferry, 70% dos profissionais entrevistados afirmam que retornar ao trabalho presencial será “difícil”, enquanto mais da metade (55%) explica que voltar ao escritório as deixa “estressadas”. E isso já pode ser percebido na prática.
Converso com executivos de empresas de diversos segmentos e é comum ouvi-los contar que suas equipes presenciais estão dispersas ultimamente e que falta iniciativa ou foco. São colaboradores que estão de corpo presente, mas não com a cabeça no trabalho. Falta a muitos profissionais retomar seu papel dentro de sua função, voltar a ser proativos. A engrenagem não está funcionando como antes da chegada da covid-19. São as mesmas pessoas, mas que não rendem como antes, impactadas pela pandemia e por suas consequências.
E como recobrar esse senso de pertencimento e os níveis de produtividade no trabalho presencial? É preciso investir em treinamento e desenvolvimento, porque é impossível fazer o melhor negócio ou mesmo um bom negócio sem as pessoas estarem bem emocionalmente. Tecnicamente, sabemos que os colaboradores estão preparados, mas sentimos muita inconsistência na parte emocional. E isso se estende a todas as áreas do mercado de trabalho. É comum, atualmente, ter que cobrar datas e entregas de atividades rotineiras, o que exige dos líderes mais atenção e follow-up constante, o que impõe uma demanda adicional na gestão dos líderes.
Também tem sido necessário e importante resgatar as descrições de cargos, lembrar o papel de cada um e os KPIs de cada área para que o negócio flua de uma forma estruturada e organizada, tanto no curto como no longo prazo. Os líderes devem dedicar tempo exclusivo para o diálogo constante com cada colaborador, adequar a comunicação de forma franca e transparente entre as partes, desenvolver raciocínio claro e coerente nas situações complexas, saber lidar com conflitos e praticar a empatia, na busca do resgate dos seus colaboradores, estimulando-os e engajando-os novamente.
Acredito que os líderes tinham a expectativa de que, com a volta ao trabalho presencial, retomássemos a agilidade organizacional do passado. Em vez disso, o líder de hoje tem de ser, além de gestor de processos e líder de pessoas, um profissional com empatia, capaz de criar um ambiente de “gente que cuida de gente”, com um olhar mais humano nesse momento em que começamos a sair de um período de muita pressão, gerada pelos anos de pandemia. Só que é preciso lembrar que isso deve ser uma via de mão dupla. O colaborador por sua vez, também precisa dar sua contribuição, demonstrar disposição, assumir o que se propôs na área em que foi contratado, focando nos seus deveres e nas responsabilidades assumidas, e não só nos seus direitos.
Uma das queixas recorrentes, tanto em períodos de trabalho presencial como no remoto, é que as pessoas se sentem esgotadas e falta tempo para pensar de forma estratégica. Nesse aspecto é importante que a liderança indique iniciativas que colaborem para a melhor gestão do tempo do colaborador e, ao mesmo tempo, garantam que, havendo resposta positiva na execução de tarefas operacionais, sejam incluídas as tarefas estratégicas. Vencer etapas do desenvolvimento e crescimento profissional exige dedicação das duas partes. O gestor e o colaborador precisam atuar em um plano de ação em consonância e dedicar seus esforços para a realização do movimento desejado.
É claro que nenhuma ação traz resultados da noite para o dia. Leva tempo para as adequações nas novas habilidades comportamentais frente ao cenário atual. Líderes e colaboradores em geral estão todos inseridos no mesmo contexto de desafios e sofrem as consequências. É preciso desenvolver esse olhar humanizado e adotar estratégias e ações que permeiem o negócio como um todo, mas sem esquecer que o sucesso dessa iniciativa implica uma ação de mão dupla.