José Claudio Pereira
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Eonara do Carmo Cesa Paim
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Pesquisa aponta impacto do trabalho remoto no salário e benefícios econômicos com transporte e alimentação
Análise mostra que, embora o trabalho remoto resulte em menor aumento salarial, a flexibilidade e os benefícios não financeiros compensam a desaceleração salarial.
Uma recente pesquisa conduzida no Reino Unido trouxe à tona um debate relevante sobre os efeitos do trabalho remoto e híbrido no desenvolvimento salarial dos trabalhadores. Economistas das renomadas universidades britânicas University of Nottingham, University of Sheffield e King’s College London analisaram dados de 2018 a 2023 e concluíram que funcionários que atuam parte do tempo em regime remoto ou híbrido experimentaram um crescimento salarial entre 2% e 7% mais lento do que aqueles que trabalham exclusivamente de forma presencial. Esse fenômeno foi identificado como uma "penalidade salarial" associada ao trabalho remoto. As informações são da Bloomberg.
Embora essa desaceleração no crescimento salarial seja um ponto crítico, os autores da pesquisa destacam que os profissionais remotos ainda se beneficiam de vantagens não monetárias consideráveis. Entre os benefícios mais significativos estão a flexibilidade na rotina de trabalho, a economia com transporte e alimentação, e uma maior qualidade de vida. Esses fatores, segundo o estudo, são apontados como compensações relevantes, mesmo diante de um aumento salarial mais tímido.
Desigualdade entre setores e impacto no mercado de trabalho
A análise detalhada revelou que os efeitos do trabalho remoto variam de acordo com a área de atuação. Profissionais de setores como consultoria, tecnologia e programação de software, que possuem altos níveis de escolaridade e salários mais elevados, são os que mais se beneficiam da possibilidade de trabalhar de casa. Por outro lado, trabalhadores de setores que demandam presença física, como comércio e manufatura, continuam a observar um crescimento salarial mais expressivo. Este crescimento é, em parte, atribuído à falta de flexibilidade que esses setores oferecem, criando uma compensação financeira adicional.
Apesar dessa disparidade entre os setores, o estudo ressalta que a diferença de compensação total entre trabalhadores remotos e presenciais — ao incluir tanto salários quanto benefícios — não resultou em um aumento significativo da desigualdade salarial. Na visão dos economistas envolvidos, o aumento da flexibilidade proporcionado pelo trabalho remoto contribuiu para uma melhoria na compensação média geral, sem agravar a desigualdade entre os diferentes grupos de trabalhadores.
Retorno ao escritório impõe novos desafios
A pesquisa também abordou os desafios enfrentados pelos trabalhadores que retornam ao ambiente presencial. Custos com transporte, alimentação e vestuário foram apontados como as principais despesas associadas ao retorno ao escritório. De acordo com o estudo, os trabalhadores britânicos indicaram que estariam dispostos a renunciar até 8,2% de seus rendimentos para manter o regime remoto, trabalhando de casa dois ou três dias por semana. Grupos como mulheres, jovens e aqueles que enfrentam longos deslocamentos diários são os que mais valorizam a possibilidade de continuar em um modelo de trabalho flexível.
A questão do trabalho remoto e híbrido volta a ganhar força no cenário político do Reino Unido. O Partido Trabalhista, liderado por Keir Starmer, tem proposto mudanças na legislação trabalhista para garantir maior acesso ao trabalho flexível. A proposta visa ampliar o direito de escolha dos trabalhadores em relação ao regime de trabalho, tema que ganhou destaque na campanha do partido.
O papel do trabalho híbrido em grandes cidades
Em cidades como Londres, onde o custo de vida elevado e o tempo de deslocamento são barreiras significativas, o modelo de trabalho híbrido tem se consolidado como uma solução eficaz. Cerca de 40% dos trabalhadores londrinos que adotam esse regime apontam a economia com transporte como uma das principais vantagens, superando a média de 34% observada em outras grandes cidades.
A pesquisa também indica que o impacto dessa transição no mercado de trabalho londrino é perceptível. Londres apresenta um número menor de trabalhadores em escritórios em comparação com cidades como Paris, Cingapura e Nova York. Isso se deve, principalmente, ao alto custo e às longas distâncias enfrentadas diariamente pelos trabalhadores na capital britânica.
Perspectivas futuras para o mercado de trabalho
A pesquisa reforça a ideia de que, apesar das vantagens oferecidas pelo trabalho remoto, a valorização salarial e as compensações financeiras continuam a ser mais atrativas para trabalhadores que permanecem em regime presencial. O equilíbrio entre esses dois modelos de trabalho deverá se tornar um dos principais fatores nas futuras negociações entre empregadores e empregados, especialmente em um mercado de trabalho que ainda busca se adaptar às transformações impostas pela pandemia.
À medida que o debate sobre trabalho flexível avança, a necessidade de reavaliação das políticas trabalhistas se torna cada vez mais urgente, com impactos diretos tanto na vida dos trabalhadores quanto na competitividade das empresas. O futuro do mercado de trabalho pós-pandemia promete continuar a ser moldado por essas discussões, com a busca por um equilíbrio que atenda tanto às demandas por flexibilidade quanto à necessidade de crescimento salarial consistente.