José Claudio Pereira
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Eonara do Carmo Cesa Paim
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Área oferece boas oportunidades para o profissional contábil
Fonte: Jornal do Comércio
Novas oportunidades estão surgindo para o bacharel em Ciências Contábeis, seja ele contador, gerente contábil, auditor, controller ou de outra especialidade ligada à área. Uma pesquisa realizada, no início deste ano, sobre escassez de talentos em 32 países e com 43 mil empregadores mostrou que os contadores estão na lista das dez profissões mais requisitadas em 17 países. É o terceiro profissional mais procurado no mercado, atrás apenas de engenheiros e administradores.
Conforme o consultor e instrutor do Conselho Regional de Contabilidade do Rio Grande do Sul (CRC-RS) para Empresas do Terceiro Setor Jôni Franck Nunes Costa, o setor público, a criação de controles, transparência das contas governamentais, mudanças normativas e com a informatização cada vez maior dos atos e transações comerciais exigem do profissional novas atitudes. A abertura de novos empreendimentos, com o aquecimento da economia do País, está gerando o crescimento em diversos setores antes estagnados, como, por exemplo, a construção civil.
Da mesma forma, a área social e ambiental está gerando um crescimento, em especial no chamado Terceiro Setor. "Abrem-se muitas oportunidades para a profissão, não só para quem já está no mercado profissional como para quem quer se desenvolver e se especializar no setor."
Costa cita uma pesquisa realizada pelo IBGE em 2002, quando foi apontada a existência de cerca de 275 mil Organizações Não-Governamentais (ONGs) no País. Na ocasião, elas já movimentavam recursos significativos de aproximadamente 1% do PIB, gerando cerca de 1,5 milhão de empregos diretos e indiretos. "As oportunidades estão na mão do profissional contábil. A exigência de conhecimento específico sobre as peculiaridades do setor é inerente para uma boa prestação de serviços, uma vez que essas entidades são ainda pouco profissionalizadas", diz.
O governo - tanto na esfera federal quanto estadual e municipal - começa a ter a visão que a sociedade civil organizada pode assumir algumas funções e papéis com possível maior competência, qualidade e economia do que a máquina do estado. Funções de governos nas áreas social, ambiental, cultural que antes estavam sobre o guarda-chuva do estado passam agora para a sociedade civil organizada. O conselheiro do CRC-RS lembra que a utilização de ONGs (Fundações, Associações sem fins lucrativos qualificadas como Oscips ou com Títulos de Utilidade Pública) é cada vez maior por parte das entidades públicas. Isso requer entidades cada vez mais preparadas e administradas profissionalmente por executivos e principalmente por profissionais preparados na área contábil.
Falta de controles e de critérios
bem definidos dificulta trabalho
A inexistência de regras e uma legislação específica é empecilho tanto para o trabalho desenvolvido pelas entidades sem fins lucrativos como para a atuação de contadores e auditores. No início do ano, uma operação deflagrada pela Polícia Federal, com o apoio do Ministério da Previdência Social, constatou irregularidades em 60 entidades da área de saúde e educação no País. A Operação Fariseu apurou casos de corrupção, peculato e formação de quadrilha em cinco estados, incluindo o Rio Grande do Sul. Os suspeitos foram acusados de distribuir títulos de filantropia em troca de propina.
O sócio-diretor da TSA Auditores Associados Nilton Antonio Tiellet Borges critica a falta de critérios e normas que regulamentam o setor. A inexistência de uma regra para definir quem é carente no ensino, cita Borges, é um exemplo. "Muitas vezes, vemos pessoas com condições estudando nas instituições públicas enquanto outros menos favorecidos não têm essa oportunidade."
O aumento no número de ONGs é um fator que contribui para o surgimento de entidades de caráter duvidoso. No caso das Oscips, foram criadas mais de 100 mil recentemente, várias delas na Amazônia e internacionais. Uma particularidade das Oscips é que elas se dividem entre as que podem remunerar os seus dirigentes e as que não podem. Segundo Borges, uma entidade filantrópica pode fazer parceria com uma Oscip, desde que esta não remunere sua direção, pois estaria dando uso inadequado aos seus recursos.
"Quando tivermos regras e normas específicas, o trabalho será mais fácil", acredita. O processo mudou a partir da Constituição Federal de 1988. Até então, não havia uma aproximação entre a política fiscal com as entidades, nem averiguação do trabalho desenvolvido. De lá para cá, houve mudança nessa realidade, com a verificação das atividades prestadas."A grande falha das entidades é a falta de controles internos", lamenta.
Contador deve auxiliar na tomada de decisões
Se por um lado cabe aos administradores das entidades do Terceiros Setor valorizar o profissional da contabilidade, por outro cabe ao contador demonstrar as importantes ferramentas que o administrador tem a sua disposição, traduzindo, participando conjuntamente e assessorando no dia-a-dia na tomada de decisão.
Para o contador Jôni Franck Nunes Costa, o grande desafio dos profissionais do meio é a qualificação constante e a atualização, não só na parte técnica mas também no desenvolvimento de atitudes que elevem o nível de empreendedorismo e criatividade. Isso permitirá que estas oportunidades do mercado sejam aproveitadas de forma adequada.
"Só depende de nós a valorização cada vez maior da área contábil. Cabe aos profissionais novas atitudes neste novo segmento, a segmentação não só da área mas também dos novos nichos de mercado em expansão", diz.
Costa ressalta que o profissional tem a oportunidade de se capacitar em determinados tipos de empresas ou de segmentos, gerando uma melhor especialização, podendo gerar melhores resultados aos seus clientes através do conhecimento não só da profissão, mas também das características daquele mercado de atuação.
A sustentabilidade de uma instituição é fundamental para a continuidade de suas ações sociais. Aí entra novamente o profissional da área contábil, que deve ser o consultor das entidades do Terceiro Setor, assessorando, monitorando e participando das decisões com o conselhos de Administração, conselhos de Curadores e conselhos Fiscais. "O profissional contábil tem o conhecimento das ferramentas econômicas e financeiras para poder ajudar a entidade a progredir, para isso ele tem que desenvolver habilidades e atitudes que o façam ver oportunidades e não problemas."
A busca de recursos através de incentivos na tributação das pessoas físicas e jurídicas também deve ser assessorada. Muitos investimentos podem ser realizados, com importantes incentivos a abatimento e deduções no Imposto de Renda ou nos Impostos de Circulação de Mercadorias, e para isso o profissional deve estar atualizado e buscar ajudar uma entidade do Terceiro Setor a captar estes recursos.
Atuação com entidades requer conhecimento específico
Para trabalhar junto às chamadas entidades do Terceiro Setor e empresas sem fins lucrativos, o contador deve dominar algumas particularidades. A manutenção de títulos públicos, certificados de entidades filantrópicas, Conselho Nacional de Assistência Social (CNAS), qualificação de Organização da Sociedade Civil de Interesse Público (Oscip) é outra exigência que requer conhecimento específico, com poucos profissionais conhecedores do assunto.
A transparência na gestão das entidades e em suas operações, em suas prestações de contas para empresas públicas e empresas privadas é cada vez maior, exigindo de contadores e auditores uma amplitude no seu conhecimento técnico. Demonstrações Contábeis que atendam aos requisitos do setor, não só para quem investe recursos públicos, mas principalmente empresas privadas, são fundamentais.
Empresas privadas têm transferido muitos recursos para ONGs, realizando o seu papel de empresa cidadã, demonstrados através do seu Balanço Social e contribuindo para a criação de ambiente social mais justo e sustentável. O conselheiro do CRC-RS Jôni Franck Nunes Costa lembra que o Conselho Federal de Contabilidade tem emitido as chamadas Normas Brasileiras de Contabilidade Técnicas (NBCTs) específicas para entidades sem fins lucrativos. Elas padronizam operações como gratuidades, doações e voluntariado para que estas entidades consigam demonstrar às diferentes partes interessadas (governo, empresas, clientes, acionistas, administradores, investidores, doadores etc) a correta aplicação dos recursos.
Auditoria foca a imunidade ao pagamento de tributos
As empresas sem fins lucrativos, assim como as demais, quando submetidas à auditoria, atendem a determinadas exigências. A diferença no foco do auditor é que enquanto nas chamadas corporações comerciais (bancos, indústrias, empresas etc) verifica-se se o pagamento de impostos é feito de forma correta, nas instituiçãoes sem fins lucrativos, o enfoque é averiguar se elas estão pagando tributos indevidamente. As empresas sem fins lucrativos estão protegidas pela imunidade, isentas de pagar diversos impostos.
"Quando descobrimos na auditoria que uma entidade desse ramo está pagando impostos, isso significa que ela está sendo administrada de forma errada", diz o sócio-diretor da TSA Auditores Associados, Nilton Antonio Tiellet Borges. As empresas sem fins lucrativos estão divididas entre as que possuem caráter filantrópico e as que não o têm. Na auditoria, é verificada a existência do Certificado de Entidade de Assistência Social, o cumprimento da legislação - se dá a assistência social de forma adequada etc.
No caso das escolas, por exemplo, Borges diz que é preciso verificar se estão sendo cumpridos os procedimentos de seleção para quem é carente ou não, porque não existe uma lei específica para determinar isso, apenas parâmetros estabelecidos pelo Programa Universidade para Todos (Prouni) ou o Programa de Financiamento Estudantil (Fies) baseados no salário mínimo. "Analisamos se as entidades seguem os critérios de acordo com essas determinações, verificando se há uma ficha socioeconômica para avaliar a situação da família", explica.
Borges trabalha com auditoria voltada para as entidades sem fins lucrativos desde 1988. No escritório, são 14 auditores, que atendem a cerca de 30 mantenedoras de hospitais e escolas espalhadas pelo Brasil, na maioria formadas por congregações religiosas.