José Claudio Pereira
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Eonara do Carmo Cesa Paim
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Sem IR e com garantia, letras de crédito atraem investidor
Alta dos juros eleva ganho de LCA e LCI, e estoque sobe 80% em 1 ano
Elas podem parecer uma sopa de letrinhas para desavisados, mas LCA e LCI entraram de vez no abecedário dos investidores pessoa física. A combinação de juros altos, isenção de Imposto de Renda (IR) e aumento da garantia contra calotes fez com que saltasse mais de 80% o estoque desses dois títulos privados de renda fixa em um ano, roubando espaço do tradicional CDB.
As siglas significam Letra de Crédito do Agronegócio e Letra de Crédito Imobiliário, produtos bastante semelhantes, emitidos por bancos e lastreados em financiamentos a esses dois setores. Na maioria das vezes, as letras são oferecidas na modalidade pós-fixada, na qual o investidor só conhece a rentabilidade ao fim da aplicação. Elas costumam pagar um percentual do Certificado de Depósito Interbancário (CDI), que, por sua vez, acompanha de perto a evolução da taxa básica de juros, a Selic.
Mas o grande diferencial de LCA e LCI frente a outras aplicações de renda fixa é a isenção total de IR para pessoas físicas, concedida pelo governo para estimular os créditos imobiliário e agrário.
— Na média, esses dois produtos rendem entre 95% e 97% do CDI. Com a isenção do IR, é como se rendessem entre 115% e 120% do CDI, o que é muito atraente para o investidor — explica o diretor de gestão de recursos da Ativa Corretora, Arnaldo Curvello.
O estoque de LCI cresceu 86% entre maio de 2013 e o mesmo mês deste ano, chegando a R$ 117,365 bilhões, segundo os números mais atualizados da Cetip, depositária de quase a totalidade desses títulos no país. Já o volume de LCA — do qual a BM&FBovespa detém a maior fatia — subiu 83% no período, alcançando R$ 132,406 bilhões.
Emissão de banco médio rende mais
Segundo analistas, a atratividade desses produtos foi muito favorecida pelo aumento de três pontos percentuais da Selic no período, o que elevou rentabilidade das letras. Mas Rubens Machado, da corretora XP Investimentos, aponta como influência importante a expansão da cobertura do Fundo Garantidor de Créditos (FGC) em caso de falência do banco emissor: esse valor passou de R$ 70 mil para R$ 250 mil em maio de 2013. Isso favoreceu investidores que buscam rendimentos maiores, que costumam ser oferecidos por bancos de menor porte e maior grau de risco. Dos 35 emissores com que a XP trabalha, 80% são bancos médios, por exemplo.
— A isenção de IR foi o grande motivo de essas letras terem se expandido em detrimento do CDB. Considerando a enorme carga tributária que incide sobre investimentos abaixo de dois anos, as letras são os ativos mais atraentes hoje na renda fixa. Mas o grande impulso ao estoque recentemente foi a ampliação de cobertura do FGC — afirma Machado.
O engenheiro civil Carlos Augusto dos Santos, de 57 anos, é um dos que estão usufruindo da garantia do FGC. Ele pulveriza um patrimônio de R$ 3 milhões em 13 ativos de LCA e LCI.
— Isso me permite aproveitar a cobertura do FGC em vários bancos. O fundo foi mais determinante para mim que a isenção de IR — conta ele, acrescentando ter decidido apostar nos títulos devido à alta da Selic e à instabilidade da Bolsa.
Produtos têm algumas limitações
Mas o investidor deve estar atento a algumas limitações das letras. A principal é o valor mínimo da aplicação, que costuma ser superior a R$ 25 mil. Mas os emissores estão se esforçando para oferecer opções mais acessíveis. Segundo Machado, da XP, um dos bancos com que a corretora trabalha tem letras de R$ 3 mil. Na Ativa, o investimento começa em R$ 10 mil.
Outro limitador é o fato de as letras só poderem ser resgatadas no vencimento. O prazo médio é de um ano e meio e, nesse tempo, o investidor fica impedido de movimentar sua aplicação.
— LCA e LCI são para quem não precisa do dinheiro a curto prazo. Para quem precisa, o CDB é mais atraente, porque é possível resgatá-lo a qualquer momento — adverte Carlos Ratto, diretor executivo comercial da Cetip.
O administrador de empresas Mauro Warneck, de 53 anos, ainda teve o cuidado de checar as classificações de risco (ratings) dos bancos médios que emitem as dez letras em que investe:
— Segurança é o que eu busco. Busquei emissores com a melhor rentabilidade, mas apenas entre aqueles com bons ratings — explica.