José Claudio Pereira
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Eonara do Carmo Cesa Paim
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Brasileiros ainda emitem 200 milhões de cheques ao ano mesmo com invenção do Pix
Cheques persistem especialmente em pequenas cidades e onde o acesso à internet é precário.
Apesar da evolução tecnológica nos meios de pagamento no Brasil, como a criação do Pix, o uso do cheque segue forte.
Como ferramenta de pagamento de salário ou de parcelamento, são compensadas hoje, por ano, mais de 200 milhões de folhas de cheques – mais da metade no Sudeste.
A conclusão é de que esse meio de pagamento, já deixado na gaveta há alguns anos por grande parte da população bancarizada, segue substituindo dinheiro, cartões e transferências eletrônicas, principalmente em regiões mais distantes de grandes centros e com acesso precário à internet.
Levantamento do Banco Central a pedido do Estadão mostra que o advento do Pix, no fim de 2020, ajudou a reduzir a circulação de cheques, mas o número de compensação segue firme especialmente em municípios menores, com forte presença do agronegócio.
Em 2020, foram compensados 287 milhões de cheques, volume que caiu para 219 milhões em 2021. Neste ano até maio, mesmo com a disseminação do Pix, foram 76 milhões de folhas emitidas.
O diretor adjunto de Serviços da Federação Brasileira dos Bancos (Febraban), Walter Faria, reconhece que esse instrumento de pagamento continua relevante no País, especialmente onde a internet é intermitente.
“Alguns comerciantes, por exemplo, ainda pedem o cheque. Eles ainda endossam o cheque e o repassam, funcionando como se fosse um crédito”, afirma Faria, embora acredite que, com o avanço da bancarização e da melhora do sinal da internet, o uso do cheque seguirá caindo.
O empresário José Oliveira, que atua na compra e na venda de hortifrúti para o varejo, explica que o uso do cheque é parte da cultura do negócio. Mensalmente, ele usa cerca de 200 folhas da cédula do pré-datado para a compra de insumos para a empresa.
“Pelo menos 90% dos meus pagamentos são feitos com cheque”, conta. “No Ceagesp (Companhia de Entrepostos e Armazéns Gerais de São Paulo), o uso do cheque ainda é muito forte, dificilmente alguém faz um pagamento por Pix. ”
Apesar da dependência da modalidade de crédito, o empresário afirma que prefere não repassar cheques recebidos para evitar as dores de cabeça em caso de inadimplência.
“Tem de tomar cuidado com quem passa o cheque para você. Hoje em dia só 5% dos cheques que eu recebo acabam voltando”, diz.
Com o pré-datado, o cheque ocupa um espaço que outros meios ainda não entraram. Professor da Escola de Economia da FGV, Joelson Sampaio diz que o cheque permite ao comerciante a programação de pagamentos.
“Isso os ajuda no controle financeiro de seus negócios. Isso ajuda a explicar o porquê de o cheque ainda ser muito utilizado, apesar do avanço dos cartões e do Pix”, diz.
Interior
Em Porto Feliz (SP), cidade com um pouco mais de 50 mil habitantes, o músico Rodrigo Moura recentemente desengavetou o cheque para pagar uma reforma. Foi como conseguiu com os prestadores de serviços, tal como o vidraceiro, a possibilidade de parcelamento.
A cooperativa de crédito Sicoob, a maior do País em número de agências bancárias, tendo recentemente superado o Banco do Brasil, percebe um volume de cheque resiliente às últimas inovações tecnológicas.
“Cheque ainda é um instrumento muito utilizado, vem sofrendo redução, mas segue importante e circula muito ainda, inclusive como instrumento de crédito”, diz o diretor de Coordenação Sistêmica e de Relações Institucionais do Sicoob, Ênio Meinen. “É muito empregado em localidades de até 20 mil habitantes.”
Fabricação
A impressão de produtos bancários, como os cheques, já representou 40% do faturamento da Valid. Hoje, a fatia é de 3%. A empresa, conhecida pela confecção do RG e CNH, produz em sua fábrica de Sorocaba (SP) cerca de 3,5 milhões de cheques ao ano.
Na mesma fábrica, também produz alguns documentos bancários, como as eventuais cartas enviadas por bancos, além de boletos.
Em relação aos cheques, conta o presidente da Valid, Ivan Murias, são quatro modelos que saem da fábrica.
O primeiro é o cheque domiciliar, que é quando o cliente recebe o talão em casa. O segundo é aquele que o cliente pode imprimir nos caixas eletrônicos. O terceiro é o administrativo, de alto valor, muitas vezes utilizado na compra de um imóvel, que sai da agência já emitido e com saldo aprovado.
O último modelo é chamado de formulário contínuo, muito utilizado em escritórios de contabilidade, onde os cheques são preenchidos em uma impressora com uma cópia. O volume, nos dois últimos modelos, é menor, mas estável, comenta Murias.
Fonte: com informações do Estadão Conteúdo